quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Ciclos na Cena Gótica


OS CICLOS NA CENA GÓTICA



Acompanhando a cena Gótica paulistana nos últimos 20 anos vimos muitas coisas se repetirem periodicamente. Ciclos se sucedem. Gerações surgem, crescem e são substituídas- quase totalmente- por uma nova. Acontece algo semelhante a outros setores brasileiros, que não tem ou não tinham registros de sua história: as novas gerações tem a impressão de que estão enfrentando certas situações pela primeira vez, quando na verdade enfrentam repetição de ciclos.


1. INFLAÇÃO E DEFLAÇÃO POPULACIONAL PERIÓDICAS



Um dos padrões periódicos é a inflação e deflação “populacional” da cena Gótica. Entre cada ciclo, grande parte dessa população abandona a cena e é substituída, no médio prazo, por outras pessoas, sendo que um percentual permanece ao longo das gerações. Outros retornam depois de anos. Mas sempre cabe aos que permanecem de uma geração para outra a responsabilidade de passar as informações. Na primeira vez que conhecemos a cena, sempre imaginamos que nunca sairemos, ou que se sairmos, não voltaremos. Ambas as crenças são ilusórias: se você é vinculado afetivamente a subcultura Gótico, as vezes você vai odiar, as vezes você vai amar, vai dizer que nunca vai voltar ou que nunca vai sair. Mas você sempre está por perto...ou de repente tem uma “recaída”.


2. OS QUE FICAM E OS QUE SAEM


Quanto aos que saem, invariavelmente o fazem pelos mesmos motivos de sempre: estavam envolvidos apenas com amizades ou algumas galeras que se dispersaram, e/ou apenas satisfaziam na cena Gótica uma necessidade natural da adolescência que poderiam estar satisfazendo em qualquer outro grupo: de adquirir uma identidade provisória que sirva para a ruptura inicial com o núcleo familiar. É muito comum que os que abandonam a cena por estes motivos saiam falando “mal dos góticos”, dizendo ser coisa de adolescente, etc. De fato, para estas pessoas foi apenas isso. O erro destas está em transferir o que é verdade no seu caso pessoal para todos.


3. EX-NOVOS E JOVENS OLD-SCHOL

Uma curiosidade é o comportamento de muitos “ex-novos” (por exemplo,alguns que estão entre 1 e 5 anos na cena) que em um período muito curto se tornam críticos dos “novos-novos” (até um ano ou 2). Um comportamento típico de auto-afirmação que tende a se tornar mais moderado com a maturidade. O engraçado é ver que o que foi “modismo” dez anos atrás ser considerado símbolo de status“old-school” hoje. Seria interessante um pouco mais de senso crítico, pois subculturas, como qualquer cultura, dependem da boa relação entre as gerações.


4. O GÓTICO ACABOU... DE NOVO?!


Alguns dizem que estes ciclos duram 4 anos. Outros falam em 5 anos. Talvez não tenham um tempo exato, mas um padrão de desenvolvimento. O fato é que no final deles sempre surge a conversa de que “o gótico acabou”. E no começo dos ciclos, quando ocorre a inflação de pessoas, se repetem os protestos contra “a invasão da cena” e “não tem mais góticos verdadeiros como antes”. Descontada a tendência histórica dos Góticos para a idealização do passado, ao final de duas décadas começa a ficar um pouco entediante ouvir as mesmas teses periodicamente. Talvez fosse mais saudável aceitar os ciclos, os neófitos e as dissenções e as usarmos a favor do desenvolvimento da cena.


5. APROXIMAÇÕES E AFASTAMENTOS DO MAINSTREAM

Outro fato curioso é que periodicamente, alguma sub cena busca se firmar como uma cena independente, se aproximando do mainstream. Dependendo dos estilos mais comerciais de dada época, segmentos historicamente ligados ao Gótico buscam formar cena independentes usando o público transitório desta onda. E repetidamente é usado o discurso de que Gótico é “ultrapassado”. Mas, em um momento seguinte, com a queda da moda em questão, este segmento volta a sua tradicional ligação “de subsistência” com a cena Gótica.


6. GERAÇÕES MUSICAIS E VELHAS NOVIDADES


Também o ciclo de conhecimento musical, que se torna um pesadelo para alguns Djs, acompanha mais ou menos as inflações e deflações populacionais na cena. Dentro de um ou mais ciclos, certas bandas e músicas que antes eram “babas” ou muito conhecidas se tornam as vezes desconhecidas. Assim, a cada nova geração, junto com a produção musical atual, toda a tradição passada precisa ser reapresentada pois para quem está chegando ela é novidade.

Devido aos ciclos, a informação básica não pode ser considerada garantida jamais. Mas é com os ciclos que a cena Gótica e Darkwave evolui e se renova, tando no Brasil quanto no mundo. Quem tem apenas história é museu, mas quem não tem história nenhuma não tem caráter para evoluir coerentemente. O importante é conhecer sua história, seu presente e o futuro: todos são igualmente importantes. Senão, somos vítimas fáceis da descaracterização e desaparecimento de nossa diversidade subcultural.


H. A. Kipper, Junho 2009

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